“Professor, estou buscando empreendedores. Conhece algum aluno ou
ex-aluno que está empreendendo?” Ele desviou sua atenção do computador,
encarou-me como se fosse um ET e com um olhar oblíquo e desinteressado
perguntou quem eu era e se poderia ser mais claro. Disse que trabalhava
com venture capital e que estava em busca de startups para investir. Ele
voltou-se para o monitor e balbuciou algo que entendi que ele não
poderia ajudar. Agradeci a atenção e saí da sua sala com a dúvida se ele
tinha entendido alguma coisa do que tinha falado ou se tinha ficado
bravo por tê-lo abordado sem um agendamento prévio. Mas a cena se
repetiu inúmeras vezes naquele ano de 1999 em outras faculdades e
universidades e a quase totalidade dos professores não tinha nenhuma
compreensão ou referência de empreendedorismo.
Dezessete anos depois e esta universidade que tinha visitado
inicialmente, a UNICAMP, é a principal referência acadêmica nacional de
empreendedorismo. É a que mais gera patentes no país, tem uma das
principais incubadoras e parques tecnológicos do Brasil, a mais atuante
agência de inovação e seus dirigentes não se cansam de falar das “filhas
da UNICAMP”, um conjunto monitorado de 286 empresas que foram criadas
por egressos da instituição e que juntas faturaram algo próximo a R$ 3
bilhões e geraram 20 mil empregos altamente qualificados em 2015.
Mas enquanto a UNICAMP não só incluiu o tema empreendedorismo,
principalmente a partir de 2002, quando o Professor Carlos Henrique
Brito Cruz assumiu a reitoria, mas também criou as bases de um
ecossistema condizente com a sua estrutura e papel social, muitas
faculdades e universidades do país ainda não perceberam o papel cada vez
mais relevante em formar alunos empreendedores e inovadores.
Se os temas empreendedorismo e inovação já se tornaram rotina nas
faculdades de negócios, engenharias e computação, em outras são
solenemente ignoradas e, em certos casos são até execradas como símbolo
maldito do capitalismo.
Em cursos como Medicina, Odontologia, Fisioterapia, Educação Física, Pedagogia, Direito, Contabilidade, Psicologia, Nutrição, Design, Arquitetura, Moda ou Gastronomia, entre tantos, a opção de atuar por conta própria será considerada pelo(a) aluno(a) em algum momento da sua carreira profissional e este momento tem sido cada vez mais cedo. Desta forma, conhecimentos, habilidades e atitudes empreendedoras só o(a) tornará um(a) melhor profissional, trabalhando para si ou para os outros.
Em cursos como Medicina, Odontologia, Fisioterapia, Educação Física, Pedagogia, Direito, Contabilidade, Psicologia, Nutrição, Design, Arquitetura, Moda ou Gastronomia, entre tantos, a opção de atuar por conta própria será considerada pelo(a) aluno(a) em algum momento da sua carreira profissional e este momento tem sido cada vez mais cedo. Desta forma, conhecimentos, habilidades e atitudes empreendedoras só o(a) tornará um(a) melhor profissional, trabalhando para si ou para os outros.
Mas há outros cursos que muitos não enxergam uma relação direta com o
empreendedorismo e inovação. Filosofia e Biblioteconomia são dois
exemplos emblemáticos. Estes não entendem o real motivo de Mario Sergio
Cortella, Luiz Felipe Pondé ou Clovis de Barros Filho fazerem tanto
sucesso empreendendo algo que tende a ser cada vez mais, o maior
problema do ser humano: a sua própria existência. Também desconhecem
como o Google surgiu justamente a partir de um problema de pesquisa
bibliográfica e a relevância de uma determinada referência em um mundo
inundado de informações inúteis ou desconexas.
Mas o principal motivo de incluirmos empreendedorismo e inovação na
grade curricular de todos os cursos superiores não está no fato de
darmos mais alternativas de carreiras para os nossos alunos, mas porque
ensinamos olhando para o passado, com exemplos, técnicas e abordagens de
anos ou décadas atrás, que, em várias situações já não são mais
utilizados pelo mercado.
Isto tem criado um desemprego sistêmico e funcional em que uma massa
crescente de jovens não consegue encontrar uma vaga para aplicar o que
aprendeu. Por outro lado, o aluno empreendedor é um visionário que tem
iniciativa, sabe identificar oportunidades e estabelecer soluções
inovadoras. Ser um empreendedor não se limita às pessoas que criam
iniciativas muito rentáveis, negócios sociais ou mesmo empresas sem fins
lucrativos. O comportamento empreendedor existe em todos os setores, em
todos os níveis de carreira, em todos os momentos da vida. E,
curiosamente, é o perfil mais demandado pelas principais empresas que
precisam contratar talentos que querem empreender e inovar dentro das
organizações. O empreendedor pode querer ou não ser empregado, mas nunca
ficará desempregado.
Mas voltando ao professor… Ele tinha vários alunos e ex-alunos
empreendendo. Anos depois, acabamos investindo na startup criada pelo
Fabricio Bloisi e outros colegas da faculdade. Fabrício co-fundou a
Compera, atual Movile, a maior empresa de aplicativos móveis da América
Latina, com soluções como a PlayKids, iFood e TruckPad, tornando-se um
dos principais empreendedores brasileiros da atualidade. Um golaço da
UNICAMP…
Marcelo Nakagawa é Professor de Empreendedorismo e Inovação do Insper e Diretor de Empreendedorismo da FIAP.
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