terça-feira, 24 de maio de 2016



PF deflagra 30ª fase da operação Lava-Jato


A Polícia Federal (PF) deflagra nesta terça-feira a 30ª fase da Operação Lava-Jato, batizada de “Operação Vício”, nome que remete à sistemática prática de corrupção por funcionários da Petrobras e agentes políticos. São cumpridos, desde a madrugada, no Rio e em São Paulo, 28 mandados judiciais, dos quais dois são de prisão preventiva, 28 de busca e apreensão e 9 de condução coercitiva, que é quando a pessoa é levada para prestar depoimento. A ação mira três grupos de empresas que faziam contratos fictícios com laranjas.
Foram mobilizados para a nova fase da operação 50 policiais federais e 10 servidores da Receita Federal. Aos investigados, são atribuídos crimes de corrupção, organização criminosa e lavagem de ativos. Os presos e o material apreendido devem ser levados ainda nesta terça para a Superintendência da PF em Curitiba.
Segundo a PF, as investigações estão inseridas diretamente no já revelado esquema de corrupção e lavagem de ativos decorrentes de contratos firmados com a Petrobras. Trata-se da apreciação de vários contratos e correspondentes repasses de valores não devidos ocorridos entre empresas contratantes e as diretorias de Serviços e Engenharia e de Abastecimento da estatal.
A PF disse ainda que, em outro procedimento, também estão sendo cumpridos mandados que buscam a apuração de pagamentos indevidos a um executivo da área internacional da Petrobras em contratos firmados para aquisição de navios-sondas.
EX-TESOUREIRO DO PP PRESO NA 29ª FASE
A nova fase acontece um dia depois de a PF realizar a 29ª etapa da operação, batizada de “Repescagem”. A ação mirou o ex-tesoureiro do PP, João Cláudio Genu, que teve a prisão preventiva decretada. Foram cumpridos ainda seis mandados de busca e apreensão e um mandado de prisão temporária.

sexta-feira, 20 de maio de 2016

CAMPANHA ELEITORAL, RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA VIVIDA Campanha Eleitoral para Prefeito de Altamira-PA Ano 1996


Este artigo é fruto do módulo de Assessoria Política, ministrado pelo professor Mestre Alexandre Maciel, no curso de Pós Graduação em ASCOM, da Universidade Federal do Maranhão. A pesquisa foi realizada a partir dos discursos gravados em vídeos durante a campanha eleitoral, arquivo pessoal, depoimentos do publicitário responsável pela a estratégia de marketing e do próprio candidato a prefeito, Claudomiro Gomes.
            Neste trabalho, usamos como base teórica, entre outros, os autores Gaudêncio Torquato, Wilson Bueno da Costa, Eugênico Bucci. Esta experiência, mostra ações de Marketing Político que nortearam e contribuíram decisivamente para o resultado positivo na eleição do prefeito eleito em Altamira –PA, no ano 1996. Exemplos como esse, servem de inspiração para quem lida com Marketing Político no dia a dia como profissional.

Nas últimas décadas, as campanhas eleitorais têm passado por grandes transformações. Estas transformações aconteceram, também, no que se refere ao marketing político. Os profissionais da área adquiriram extraordinária qualificação. Haja visto que o processo exige altíssimo grau de especialização em diversos setores do conhecimento.
O que inicialmente era comum nas maiores cidades, com esta evolução e o aumento dos meios de comunicação, inclusive nos municípios pelo interior do Brasil, a procura por profissionais do marketing político, também, cresceu. Uma campanha eleitoral, portanto, exige boa estratégia, já que é comum administrar crises nas atividades e em várias áreas para alcançar os resultados positivos planejados. Isso é o que pretendemos mostrar na nossa experiência vivida há mais 20 anos, o que pode ser considerado um caso de sucesso.

O ano era 1996, época em que o PSDB havia crescido muito e chegara ao poder com o sociólogo Fernando Henrique Cardoso, como presidente, em 1994. Nesse contexto, acontece então a campanha eleitoral para vereadores e prefeitos em todo o país, após um período de grandes acontecimentos na área política e econômica, como, anteriormente, o movimento da Diretas Já, a morte de Tancredo Neves, eleito pelo o congresso, o governo transitório de José Sarney, a eleição e o impeachment de Fernando Collor. Tudo isso associado ao caos político e econômico. E, por fim, Fernando Henrique dava sinais de que a “tempestade” estaria passando com o efeito das medidas econômicas adotadas pelo seu governo.
O município de Altamira é localizado na região oeste do Pará. Com, aproximadamente, 100 mil habitantes, é o maior município do mundo em área territorial, com 85 anos de emancipação política. Altamira já figurava como um dos mais importantes do interior, pela sua economia baseada na lavoura cacaueira, extração de madeira, pecuária, riquezas minerais, naturais e etc.

A região vivia um estado de euforia. Afinal, o momento de estabilidade no país refletia, também, na economia local.  A tão sonhada energia de Tucuruí estava prestes a chegar e as discussões sobre o início das obras de construção da barragem de Belo Monte voltavam à tona depois de alguns anos.  Essa era mais uma possibilidade de recursos e, portanto, mais desenvolvimento para o município de Altamira e região.
Neste cenário, têm início as articulações para a disputa ao cargo de prefeito de uma das cidades mais importantes do interior do Pará.  Dois grupos políticos ditavam a política local há, pelo menos, trinta anos. Um deles liderado pelo o empresário Armindo Denardim, que fizera de seu sucessor Maurício Bastazinni, também empresário e sócio nas suas empresas. 
O outro grupo tinha à frente o lendário Domingos Juvenil. Experiente, Juvenil iniciou a carreira política nos anos de¨1960 em Vigia, município ao norte no Pará, sua terra natal. Foi vereador, três vezes deputados estadual, prefeito biônico de Altamira, indicado pelos militares e três vezes deputado federal. Domingos Juvenil, sempre foi ligado ao governador Jader Barbalho, chegando, inclusive, a ser chefe de gabinete no primeiro mandato de Jader.
Um terceiro grupo que vinha crescendo, mas ainda sem muita expressão, tinha à frente lideranças do Partido dos Trabalhadores e de movimentos sociais, sindicatos e representantes de classes sociais.
Com a vitória de Fernando Henrique para presidente, o PSDB vira uma febre no Brasil. Seus representantes no Pará e região, o governador Almir Gabriel e o deputado federal Nicías Ribeiro, resolvem, então, lançar um candidato do partido para disputar a prefeitura de Altamira. É aí que entra em cena Claudomiro Gomes.

Depois de muitas reuniões, negociações e acordos políticos, os tucanos lançaram Claudomiro Gomes como candidato a prefeito de Altamira, pela a Coligação “Altamira para Todos”. Uma crítica aos administradores que governavam só para os ricos. Começa então a “Grande Batalha”.  A campanha do Davi contra os Golias, do tostão contra o milhão. Claudomiro Gomes, nascido em Altamira, órfão de pai, filho de uma lavadeira, um menino pobre que começou a trabalhar ainda criança para ajudar a família, é o escolhido para enfrentar o poderio econômico e os caciques da política altamirense.
Claudomiro Gomes não tinha nenhuma experiência em cargo eletivo ou político. A não ser o de coordenador do Campus Universitário local. Era praticamente um anônimo e desconhecido.  Seu maior capital, era, sem dúvida, sua imagem, sua história de vida. De família humilde, estudou em escolas públicas, graduado em Letras pela UFPA, e foi professor universitário. Ele possuía o que os outros candidatos não tinham. Era jovem, cheio de vigor, simpático, inteligente e se identificava com o povo. “No marketing político, é preciso saber ler corretamente o meio ambiente, os novos valores do eleitorado e as novas motivações do voto” (TORQUATO, 2013, p.179).
O primeiro ato público da campanha aconteceu na segunda quinzena de julho de 1996. A caminhada saiu de frente da UFPA.  Foram poucas pessoas. Eu fazia parte da equipe, como repórter cinematográfico.  Mas, se faltava gente, sobrava disposição e alegria de quem estava ali.  Foi uma arrancada diferente, parecia preconizar algo de bom no futuro.
As pesquisas feitas apontavam cerca de 3% das intenções de voto ao candidato, sendo o terceiro colocado, lá embaixo na corrida eleitoral. Contudo, mostrava, também, que a rejeição era mínima. Com a coordenação política e a equipe de marketing formada, essa última, inclusive, bem resumida e sem estrutura para trabalhar por questões financeiras, tem início a execução das estratégias de marketing. “O candidato sério, decente cumpridor de compromisso, é bem-aceito e se encaixa no perfil desejado pelo o eleitor” (TORQUATO, 2013, p.186).
Em poucos dias, o crescimento foi espetacular. Claudomiro Gomes cai na graça do eleitorado e dispara na preferência popular. O jingle do candidato já estava na boca do povo (Claudomiro, Dr. Nilson e um futuro melhor. Altamira tem jeito com Claudomiro prefeito). Muitas adesões de empresários, lideranças políticas, representas de entidades, conselhos, igrejas e mais o gosto do povo.  Surgia aí o furacão daquela campanha eleitoral, para desespero dos seus oponentes que se voltam com artilharia pesada contra a sua candidatura.
Como era comum, principalmente em meados dos anos 90, o jogo sujo começa. Ao em invés demostrar seus planos e projetos, os adversários miram em Claudomiro e começam a detonar. Diziam que ele era muito novo, nunca tinha sido nem vereador, não tinha experiência, não tinha representatividade e expressão alguma, era um anônimo e aventureiro. Enfim, calunias e ações desprezíveis, eram as armas dos seus concorrentes.
Os outros candidatos faziam de tudo para atrapalhar a campanha. Para complicar ainda mais a situação, o marketeiro da coligação não resiste às investidas de outro candidato e muda de lado na reta final. Isso foi, talvez, um dos golpes que causou maior impacto naquele momento. Uma campanha com poucos recursos crescia com a força do povo, que via no candidato do PSDB a chance de dias melhores e sobretudo para os mais necessitados.

Para o lugar do marqueteiro desertor, grupo traz de Belém o experiente publicitário Nailson Guimarães, que, em comum acordo com o candidato, a coordenação política e a equipe de marketing, adota uma postura mais incisiva.  “A partir de agora Claudomiro Gomes, em seu discurso no palanque e nos programas de rádio e TV, vai responder às provocações dos seus concorrentes” afirmou Nailson Guimarães, (o novo coordenado de marketing da campanha).

No discurso político, porém, o primeiro impulso é, possivelmente o de maior valia. A primeira lei da propaganda é a da conservação do indivíduo. Para torna-la eficaz, o candidato precisa usar o estratagema de sugerir o medo e projetar, logo em seguida, a saída da situação perigosa, a possibilidade de obter a segurança pelas ações e ideias apresentadas. E para que sejam aceitas, é preciso fazê-las aceitáveis, nivelando-as às situações cotidianas, como forma de diminuir a oposição psicológica ao que é inesperado.  (TORQUATO, 2013, p.191)

Com a nova estratégia, as ações foram intensificadas. O candidato passou ir ao encontro do eleitor, visitando os bairros, entrando de casa em casa, ouvindo as sugestões, abraçando crianças e gente grande, fazenda reuniões com empresários, líderes comunitários e representes de entidades durante todo o dia.  Quanto mais visitava, mais ele arregimentava apoio e simpatizantes. Os ataques sofridos eram o combustível para acelerar e embalar a Campanha. No discurso, Claudomiro Gomes respondia de forma magistral seus adversários.

“Eles dizem que eu não tenho experiência. Verdade! Se experiência· deles é enganar, ludibriar, fazer mau uso e desviar os recursos públicos. Essa experiência eu tenho e não quero pra mim.  Dizem também que sou um aventureiro. Nasci nesta terra, aqui eu cresci e constitui minha família. Não sou eu que moro nas mansões em Belém e Brasília, e só aparece aqui de quatro em quatro anos.  Falam que sou novo sem expressão. Altamira precisa de novas ideias. Eu na prefeitura vou dá vez e voz à juventude deste lugar, investindo em educação, cultura, lazer e esporte.  Altamira é para todos! Vamos juntos à vitória.” 1

Foi uma campanha carregada de surpresas e emoções. Claudomiro Gomes caiu literalmente nos braços do povo. Ele soube usar bem seu potencial, e soube assimilar as orientações estratégicas.  Era didático quando tinha que ser, firme quando necessário e emotivo quando as coisas lhe tocavam o coração. Entre as inúmeras qualidades já lembradas, uma das que contribuiu muito foi o lado artista. Músico nato, nos comícios ele pegava o seu violão e soltava a voz.  A música “Luz Divina” (Roberto Carlos) virou um hino nos encontros com a massa popular. O público se transformava em um grande coral.
Tudo isso não podia ser diferente. Claudomiro Gomes, (PSDB) supera tudo e todos e é eleito o primeiro governante filho da terra, depois de 85 anos de emancipação política do município, com 8.788, 35.879%, dos votos válidos, uma diferença de 197 votos para o seu maior oponente, Domingos Juvenil, o “ídolo” da política local.
Ao ser indagado, Claudomiro Gomes disse que “isso aconteceu numa época em que não havia urna eletrônica, onde a possibilidade de fraude era muito grande. A vitória do povo só foi possível, também, pelo trabalho sério do juiz eleitoral Dr. José Torquato, que conduziu o processo eletivo naquele ano, com imparcialidade e muita competência”.

            Os estudiosos afirmam que, para uma boa estratégia de marketing em campanha eleitoral, é indispensável um bom delineamento nos segmentos eleitorais. O que significa direcionamentos das classes sociais, categorias profissionais, segmentos geográficos, entre outros aspectos.
 Ficou claro, nesse caso, que a estratégia adotada pelo candidato foi seguida à risca. Mesmo tendo que gerenciar as crises que surgiram durante a campanha, uniu-se a boa imagem construída ao longo da sua história com o desejo popular por mudanças. O que resultou numa grande vitória.
De fato, o marketing por se só não resolve ou define resultados positivos na campanha eleitoral de um candidato. Mas, o que vai nortear os resultados favoráveis, é, justamente, as ferramentas e estratégias usadas a partir de valores do candidato. Isso não se resume em capital financeiro. Outros valores somados, constituem ingredientes importantes para o sucesso ou fracasso.
A experiência relatada por mim neste artigo é um exemplo de sucesso, uma vez que a opinião de muitos críticos da área, era contrária à vitória do referido candidato. Os estudos realizados a partir das pesquisas mostraram que seria possível um desdobramento positivo no decorrer do processo eleitoral. O que culminou, de fato, com a eleição do senhor Claudomiro Gomes a prefeito de Altamira, naquele pleito de 1996.
Zeca Carvalho
Assessor de Imprensa
DRT/MA1041

REFERÊNCIAS

BUENO, Wilson da Costa. Comunicação empresarial: teoria e pesquisa.           Barueri, SP: Manole 2003.
BUCCI, Eugêncio. O Estado de narciso: A comunicação Pública a serviço da vaidade particular.  SP.Companhia das Letras, 2015.
TORQUATO, Gaudêncio. Tratado de Comunicação Organizacional e Política.  2. ed. Revista Ampliada. 2010 – Cengage Learning.
Na Internet
http://www.scielo.br/pdf/rsocp/n22/n22a04.pdf (Acessado em 02/03/2016)


1 Texto extraído dos discursos gravados em filmes VHS nos comícios do então candidato a prefeito do município de Altamira, Claudomiro Gomes, em 1996. (Arquivo pessoal)