Quando fui escolhida pela sorte para ser a oradora das turmas que
colam grau esta noite, eu pensei por várias horas em como ser fiel à
trajetória e ao sentimento que cada um de nós carrega hoje. Uma parte
dessas pessoas eu conheço muito bem. Convivi, estudei e criei laços ao
longo desses anos. Mas a grande maioria são colegas distantes e até
mesmo desconhecidos. Nesse caso, a questão era: como representar todos
eles?
Foi aí que percebi que todos nós temos algo em comum. Todos nós, sem
exceção, ingressamos na universidade para perseguir um sonho. Um sonho
que se concretiza esta noite. Muitas foram as dificuldades enfrentadas
durante todos esses anos de estudo e dedicação. Ser adulto,
universitário e responsável por si mesmo não vem em manuais de
instruções.
Por mais que tenha sido um instrumento importante e indispensável
para chegarmos até aqui, a UFMA não se mostrou solícita aos nossos
anseios e necessidades. A falta de estrutura física, falta de
equipamentos e laboratórios, a falta de salas e professores suficientes e
a ausência de uma assistência estudantil digna e condizente com a
realidade do universitário, são barreiras que deixam muitos para trás.
As frequentes demonstrações de descaso da reitoria para com os campi do
continente resultaram em diversos levantes, como as três greves por
quais passamos em quatro anos de curso, sendo uma delas comandada pelos
próprios alunos, totalmente insatisfeitos com a situação.
Depois de muitas batalhas, quando finalmente chegamos à reta final,
pensando que nada mais nos afligiria, recebemos mais migalhas. É com
profunda indignação que falo que o sucateamento da educação não nos
permitiu nem sequer uma cerimônia de colação de grau totalmente
gratuita, como nos é de direito.
A contenção de gastos, nome dado à
maior parte da falta de consideração vinda da capital, não permitiram o
deslocamento do cerimonial oficial e dos membros da digníssima reitoria,
deslocamento esse que é feito até mais de uma vez em tempos eleitorais.
Os alunos, como sempre, só foram comunicados um dia antes da
solenidade. E esse foi apenas um exemplo final, dos muitos golpes que a
universidade nos deu.
Nós não nos conformamos com essa realidade. Nós não nos conformamos
com o que nos é imposto. E é assim, de peito aberto, pulso firme e com a
benção divina, que vencemos e celebramos mais esta etapa de nossas
vidas, apesar dos pesares. Esta noite, nós dividimos méritos e alegrias
com nossos pais, irmãos, amigos, filhos, companheiros e professores.
A
vocês, que sempre estiveram conosco, o nosso mais sincero agradecimento e
reconhecimento. Obrigada por ajudarem a construir nossa história e, por
muitas vezes, nos acompanhar e sustentar em nossa jornada.
Hoje, posso dizer, em nome de cada formando, que todo sacrifício
valeu a pena. As noites mal dormidas, a rotina incessante, a distância
de nossas famílias, os malabarismos entre o trabalho e os estudos, as
olheiras em tempos de prova, a indecisão entre a compra da xerox ou do
lanche.
Tudo, absolutamente tudo isso, nos fez mais fortes, nos tornou
melhores, lapidou nossos talentos e nos mostrou que podemos alcançar
nossos sonhos e mudar a realidade a que estamos sujeitos.
Daqui para frente, a caminhada não promete ser mais leve.
Mas nós nos
tornamos mais experientes e seguros daquilo de que somos capazes. Mais
do que bons profissionais em suas respectivas áreas, o meu desejo é que
cada um de nós coloque em prática a responsabilidade de sermos cidadãos
conscientes, que contribuam para o avanço da sociedade e daqueles que
mais necessitam.
Que a ética seja nossa guia e que a felicidade e a
paixão em fazer o que gostamos sejam o nosso combustível.
Já fomos sementes, já fomos mudas.
Hoje, somos árvores, embora não
tão fortes ou com raízes tão profundas, mas prontas para florescer e
ganhar o mundo com nossa determinação e busca por mais e mais
conhecimento. O nosso sonho se concretiza hoje. Mas ele não acaba aqui.
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