domingo, 11 de março de 2012

Igrejas evangélicas viraram fornecedoras de músicos profissionais para bandas e artistas seculares

Igrejas evangélicas viraram fornecedoras de músicos profissionais para bandas e artistas seculares
A música é uma parte importante do culto na maioria das igrejas evangélicas, por isso inúmeros músicos são formados nesse meio. Tendo a oportunidade de integrar a parte musical do louvor nas celebrações das igrejas, muitas pessoas que se convertem acabam descobrindo um talento ou, pelo menos, a possibilidade de aprender a tocar um instrumento e cantar. Esse fenômeno criou, involuntariamente, nas igrejas brasileiras, um mercado paralelo de capacitação.
Com isso as igrejas estão sendo vistas por muitos como celeiros de profissionais, que acabam abastecendo bandas e artistas seculares com músicos treinados e versáteis. A formação religiosa é considerada diferencial por alguns profissionais que trabalham recrutando músicos para gravações shows e turnês. O músico carioca Simoninha conta que a expressão “esse cara é bom, vem da igreja” já se tornou comum na hora de avaliar alguns dos profissionais que trabalham com ele.
“A gente fala brincando, entre os músicos que não são religiosos, que não têm vínculo nenhum. É uma forma de dizer que o cara é disciplinado, maduro e competente. Tem muita gente dessas igrejas no meio musical, um acaba puxando o outro”, explica o artista, que tem entre os sete músicos da sua banda, quatro que se encaixam nesse perfil.
Simonal conta ainda que alguns desses músicos atraem uma legião de fãs evangélicos para o seu trabalho. “Vamos fazer show, tem seguidores do Robinho. Ele tem fãs no país inteiro”, conta o músico, falando do baixista Robinho Tavares, que trabalha com ele há 12 anos.
O regente Nilton Silva, 37 anos, falou ao G1 sobre a forma que os músicos são formados na igreja. Segundo ele o esquema é colaborativo, ou “mambembe mesmo, sem regra, ar condicionado, estrutura de sala de aula. É na base da repetição e autodidatismo”.
Filho de um maestro, Nilton conta que quando seu pai começou a frequentar os cultos foi incumbido de tocar trompete, mesmo sem ter a mínima noção sobre o instrumento. Ele afirma que, com o treino, em dois anos seu pai já era responsável por ensinar aos novatos. “Meu pai é maestro desde que me conheço por gente. Ele aprendeu a reger sozinho e, depois que se converteu, passou a tocar trompete também. Aprendeu na marra, lendo partitura, estudando sozinho. O esquema é: senta aí e vai pegando com os que já sabem”, explicou.
Ele conta ainda que, na infância, ele e seus irmãos montaram um quarteto musical que fazia sucesso no meio religioso, e que aos 22 anos resolveu montar um coral com alguns amigos do meio evangélico. O músico disse que o coral não canta apenas em igrejas: “A maioria dos contratantes não é evangélica, não tem vinculo nenhum. Em março, por exemplo, cantaremos no casamento da modelo Carol Trentini, em Santa Catarina. Ela não é evangélica. Trabalhamos muito bem nesse meio. Cantamos de tudo um pouco”, explica.
Artistas como Simoninha, Paula Lima, Alexandre Pires, Sandy e Junior já procuraram por ele pedindo indicação ou até mesmo interessados em usar o coral em gravações de programas de TV, CDs e temporada de shows.
Hoje já é considerado comum ver igrejas exportando artistas para o meio secular. A cantora Shirley Oliveira, que começou na Igreja Universal, está atuando como vocalista da banda do baixista Pixinga durante a temporada de shows que ele faz em um bar na zona oeste da capital paulista. Ela já fez também segunda voz para artistas como Alexandre Pires, Jair Oliveira, Tânia Mara, Daniel e Jair Rodrigues.
O vocalista e produtor musical Aldo Gouveia trabalha na banda do cantor Fábio Júnior desde 2003 e conta que fez durante algum tempo segunda voz em shows dos Racionais MC´s, do rapper Mano Brown: “Temos amigos em comum, pessoas do meio. Ele precisou de backing em 96 e eu fiz alguns shows”, conta Gouveia.
Ele explicou também o porquê de as igrejas estarem se tornando referência nesse meio: “Músicos da igreja têm que correr atrás. O acesso existe, mas não é uma formação de alto nível. Quem gosta, tem o sonho, se vira pra se capacitar. Com o tempo, isso foi formando um grupo seleto de profissionais mais versáteis, maduros e uma rede de contatos”.

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