Diretores do Ecad serão indiciados por formação de quadrilha, cartel e apropriação indébita
No fim de abril, a CPI do Senado que investiga a atuação do
Escritório Central de Direitos Autorais (Ecad) concluirá seus trabalhos,
com acusações pesadas contra o órgão privado responsável por arrecadar
recursos que deveriam ser repassados aos artistas. Em quase 100 páginas,
o esboço do relatório obtido por ISTOÉ aponta irregularidades graves na
conduta do Ecad e pedirá o indiciamento de pelo menos quatro dos seus
diretores por formação de quadrilha, cartel e apropriação indébita.
Além disso, os senadores vão sugerir a criação de um ente público com
autonomia para fiscalizar e punir o Ecad, que atualmente dispõe de
ampla soberania para agir. Entre os fatos encontrados pela CPI estão
excessos cometidos por fiscais – que chegaram a interromper casamentos
para cobrar as taxas –, a não distribuição de cerca de R$ 90 milhões aos
compositores em 2010 e o pagamento de pró-labores milionários para seus
diretores.
Para o presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Psol-AP), a
principal constatação dos parlamentares é o acúmulo de prejuízos aos
artistas ao longo dos anos. Livre para decidir preços cobrados para cada
execução e os percentuais repassados aos compositores, a diretoria do
Ecad passou os últimos anos nadando num mar de impunidade e
independência, diz a CPI. “Foi uma brecha aberta pelo País e que
propiciou a formação dessa caixa-preta que é o Escritório Central.
Ele não conta com nenhum órgão que o fiscalize”, avalia Rodrigues. O
preço da liberdade do Ecad foi pago pelos artistas, como ficou
demonstrado no processo movido no Conselho Administrativo de Defesa da
Concorrência (Cade), no qual o órgão já foi condenado em primeira
instância.
As
associações que compõem o órgão de arrecadação estariam combinando os
preços cobrados para a execução das obras musicais e de fonogramas, o
que configura formação de cartel. Além disso, pesa contra o Ecad a
acusação de descumprimento da lei segundo a qual o órgão não teria
finalidade de obtenção de lucro. Contrariando a lei, em 2010, o Ecad
arrecadou R$ 430 milhões e distribuiu apenas R$ 340 milhões. O restante
foi parar em sua conwta.
Além disso, os documentos da CPI mostram que a diretoria do Ecad
utiliza créditos retidos arrecadados de autores desconhecidos. Em tese, o
dinheiro deveria ficar numa conta separada à espera da manifestação dos
respectivos artistas. As conclusões dos trabalhos da CPI certamente vão
exigir mudanças profundas no atual modelo de arrecadação de direitos
autorais. O fim da CPI do Senado marcará o início de uma ofensiva a um
órgão privado que abusa de suas prerrogativas e faz o que bem entende
com o dinheiro que deveria chegar às mãos dos artistas do País.
Por Izabelle Torres, da ISTOÉ:
Por Izabelle Torres, da ISTOÉ:
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