Pastor maranhense cumpre pena de 50 anos no DF por violentar filhas de fiéis
Brasília – Manoel Teoplício de Souza Ribeiro
completou 52 anos no último dia 28, longe dos amigos, da família e das
crianças que sempre o cercaram. O pastor evangélico carismático, de
palavras poderosas e capaz de criticar com veemência o uso de maquiagem e
de calças por mulheres, está condenado a 50 anos e 10 meses de cadeia
por estupro. A sentença foi definida pela Justiça do DF há um mês.
O pastor Téo, como era conhecido na comunidade, vive trancafiado no
Complexo Penitenciário da Papuda desde junho, quando teve a prisão
preventiva decretada. As vítimas dele são seis garotas. Elas tinham
entre 4 e 11 anos na época dos abusos. Em comum, além da beleza física,
são de famílias que frequentavam a Assembleia de Deus Comadeplan, em
Samambaia, onde o condenado pregava.
Os crimes atribuídos ao religioso ocorreram entre 2005 e 2010. Mas a
polícia só começou a investigá-los em 12 de janeiro do ano passado,
quando a 26ª Delegacia de Polícia (Samambaia) recebeu a denúncia de um
homem dizendo ser tio de uma suposta vítima do pastor. A menina tinha 7
anos e havia contado aos familiares que Téo tocava em suas partes
íntimas.
Ao saber das revelações, a irmã mais velha, então com 11 anos,
decidiu também revelar aos parentes as investidas sofridas do mesmo
homem. Ambas relataram terem sido abusadas diversas vezes na casa dele e
na delas. Elas repetiram as histórias, em detalhes, a psicólogas da
Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA). A partir desse
caso, desconfiados de que não se restringia às duas, agentes da 26ª DP
ampliaram a apuração.
Ao longo de seis meses, agentes da Seção de Atendimento à Mulher da
unidade policial colheram 22 depoimentos. Por meio dos testemunhos, os
investigadores traçaram o perfil do pastor e levantaram provas.
Maranhense de Chapadinha, município com cerca de 70 mil habitantes, ele
morou em Ceilândia e ganhou a vida como pedreiro. Depois disso, mudou-se
para Samambaia e virou líder evangélico. Quando assumiu a Comadeplan,
no fim dos anos 1990, conquistou uma multidão de fiéis. A confiança era
tão grande que, em 2005, uma das frequentadoras deixou a filha morar com
ele.
A mãe tomou tal decisão ao se casar. Ela mudaria para Flores de
Goiás, a cerca de 250 km de Brasília, mas queria que os filhos
continuassem em Samambaia por conta das melhores condições de estudo.
“Ele (o pastor) pediu para ficar cuidando dela. Disse que ela faria
companhia para a filha dele. Insistiu tanto que eu deixei”, conta a mãe.
Mas quatro meses depois o religioso telefonou para a fiel dizendo que
não queria mais a presença da garota na casa. A mãe não poupou a filha,
sem querer saber o motivo da então pré-adolescente não querer ver o
pastor nem ir à igreja.
Vergonha
A mãe da vítima, que hoje tem 17 anos, só soube dos crimes do pastor
Téo depois que policiais civis brasilienses procuraram a família. “Um
dia estávamos brincando no sofá de casa e ela me revelou o que se passou
no tempo em que morou na casa dele. O meu mundo desabou. Além dos
abusos sexuais, ele a obrigava a fazer os serviços de casa. Ela não quer
tocar mais no assunto”, lembra a mulher, hoje envergonhada.
Já as duas irmãs que deram início à investigação foram violentadas em
2008 e em 2009. A mais nova tem hoje 9 anos. Tornou-se uma criança
ansiosa e inquieta, de acordo com a mãe, que cria as meninas com o atual
companheiro. O pai delas mora no Rio de Janeiro. A mais velha, de 13
anos, prefere se isolar. Ambas evitam lembrar os abusos. O assunto
também é evitado pela mãe e pelo padrasto.
As perseguições por parte de alguns seguidores do religioso se
estenderam a uma das meninas estupradas por ele. Ela, que tinha 11 anos
na época do crime, foi recriminada pelos próprios familiares, após
contar sobre os abusos. O Correio conversou com a adolescente, hoje com
14 anos. Discriminada por quase todos os parentes, ela mora com a mãe e
uma avó. Antes de qualquer pergunta da equipe do jornal, ela quis saber
do tempo de condenação do religioso. Ao ser informada, sorriu.
“Um filme de terror”
“O pastor Téo tratava as pessoas bem, todos gostavam e confiavam
nele. Estava sempre rodeado de crianças. Aos fins de semana, reunia as
meninas na casa dele. Algumas até dormiam lá, pois ele dizia que elas
faziam companhia para as filhas. Eu confiava em deixar a minha também. A
minha filha ia sempre aos cultos comigo, mas ela começou a querer usar
calça e maquiagem. Ele a reprimia, dizendo que estava com o diabo no
corpo. Como forma de castigo, ele a isolou e não quis dar nenhuma função
para ela dentro da igreja. O tempo foi passando e descobri que o homem
que dava sermões bonitos é mentiroso e dissimulado. Só fiquei sabendo
dos abusos sexuais que ele praticou contra a minha filha seis anos
depois. Me doeu muito, deu indignação. Toda vez que eu penso nisso passa
um filme na minha mente, como se fosse um filme de terror. Espero que
ele pague por tudo o que fez.” (Auxiliar de serviços gerais, mãe de uma
das vítimas).
Por Renato Alves e Kelly Almeida, do Correio Braziliense:
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