quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Fotógrafo faz registro raro de tribo isolada em floresta no Acre; veja imagens





RICARDO STUCKERT Índios observam aeronave escondidos atrás de árvore

O céu escureceu e uma forte chuva obrigou o helicóptero que sobrevoava uma floresta no Acre a pousar. O temporal demorou para passar e a tripulação decidiu voltar ao ponto de partida antes de escurecer.
A chuva frustrou a viagem, mas proporcionou um registro raro e histórico de uma tribo indígena isolada, próximo à fronteira com o Peru. "É como achar uma agulha no palheiro. Pura sorte", definiu o fotógrafo Ricardo Stuckert.
A BBC Brasil teve acesso a parte dos registros feitos por Stuckert no último domingo. Ele viajava para a aldeia Caxinauá (também no Acre), onde faria uma sessão de fotos para o livro Índios Brasileiros. A obra vai documentar a rotina de 12 tribos brasileiras e será lançada no dia 19 de abril de 2017 - Dia do Índio.
RICARDO STUCKERT Índio se prepara para disparar flecha
Mas ele estava acompanhado do experiente sertanista José Carlos Meirelles, que trabalhou para a Fundação Nacional do Índio (Funai) durante 40 anos, e a dupla resolveu investigar uma área da mata com mais calma.
RICARDO STUCKERT Construção feita pelos índios
"Depois da chuva, a gente voltou e viu umas malocas feitas de palha. A gente estava voando muito rápido, mas vimos plantações e decidimos voltar. Encontramos a tribo e eu comecei a fotografar", relata o fotógrafo.
RICARDO STUCKERT Grupo de indígenas registrado
Ao identificar uma possível ameaça, os índios reagiram. Os olhares de surpresa e raiva contra o helicóptero foram registrados pelas poderosas lentes de longo alcance de Stuckert. A tribo atirou dezenas de flechas na tentativa de afastar a aeronave, que sobrevoou a região durante sete minutos.
 RICARDO STUCKERT Indígena olha para helicóptero

O próprio Meirelles avalia o voo como algo invasivo à comunidade isolada. "É um registro importante, mas é uma certa agressão. Por isso, a gente toma o cuidado de não voar baixo para não assustar tanto. Por outro lado, o mundo precisa saber que eles existem e que precisamos de políticas para conservá-los", disse Meirelles, que demarcou áreas de tribos isoladas durante os 20 anos que trabalhou na região.
Ele estima que a tribo, identificada apenas como "Índios do Maitá", por estar próxima ao rio de mesmo nome, é composta por cerca de 300 pessoas. O número, segundo ele, é bem grande para uma aldeia isolada.
Algodão
 RICARDO STUCKERT Índios em recorte mais aproximado da imagem
Segundo o sertanista, não há nenhum relato ou documento de aproximação dessa tribo com povos civilizados e até mesmo outros grupos.
Após o sobrevoo e uma primeira análise das fotos de Stuckert, José Carlos Meirelles identificou detalhes que revelam alguns costumes dos índios isolados.
"As mulheres usam uma saiota e eles têm plantações de algodão. São sinais de um povo que tece e fia. Parte deles também possui um cabelo incomum: careca até a metade da cabeça e comprido da metade para trás", relatou.
RICARDO STUCKERT Grupo de índios fotografados durante a expedição, em recorte mais aproximado da imagem
Emocionante
O sertanista afirmou que os índios são mais altos que a média e os homens amarram o pênis a uma espécie de cinta. O especialista também identificou que a tribo planta milho, banana, mandioca e batata.
 RICARDO STUCKERT Região onde índios foram localizados
O grupo fotografado vive numa área de 630 mil hectares onde estão três reservas indígenas: Kampa Isolados do Envira, Alto Tarauacá e Riozinho do Alto Envira. O sertanista disse que, apesar do completo isolamento, a localização aproximada da tribo já era conhecida. 
Nas fotos, não foram identificados objetos ou características que possam ter sido influenciadas ou levadas a eles por outros povos.
Um dos fatores apontados pelos especialistas para a sobrevivência da tribo é o fato dela estar localizada numa região de difícil acesso de madeireiros, garimpeiros e seringueiros.
 RICARDO STUCKERT Em close mais aproximado, o grupo de índios

Stuckert, que trabalhou como fotógrafo da Presidência da República durante oito anos e tem 28 anos de experiência na profissão, disse que o registro dos índios está entre "os mais emocionantes" de sua carreira.
"Eu gostaria de voltar lá, mas acho que a gente não pode ter contato. Precisamos preservar isso e quero que as minhas fotos mostrem que a gente tem que mapear tudo o que está perto e protegê-los para que não tenham problemas externos", afirmou.
O fotógrafo disse ter ficado "maravilhado" por registrar pela primeira vez na sua carreira uma população que nunca teve contato com uma população isolada.

 RICARDO STUCKERT Índios se escondem ao ver helicóptero
O sertanista José Carlos Meirelles também demonstra felicidade por ter visto os índios isolados, mas se disse preocupado com o possível avanço do desmatamento e de seringueiros.
"Fiquei muito feliz em saber que estão bem. Foi muito bom ver que eles têm um roçado e estão no seu espaço. O problema é que ninguém sabe até quando."




















quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Verdade seja dita, Mentira tem perna curta


Com a proximidade da eleição da nova mesa diretora da Câmara Municipal de Açailândia, cresce a especulação de quem será o novo presidente da casa para o biênio 2017/18. O grande problema são as fofocas e mentiras ditas à população do município, por “mentes férteis”.

O durante todo o dia a fofocaiada rolou solta, inclusive em alguns meios comunicação da cidade, que o grupo dos novos vereadores eleitos, o já batizado G10 estariam em salinas, praia no litoral paraense.

Não se sabe com que objetivo, ou quem está interessado em tirar proveitos das mentiras, levadas ao público. O fato é esculacharam os vereadores que formaram um grupo com o objetivo de disputar a presidência da câmara. O que é legítimo, não há nada regimental que impeça isso.

Mais a verdade é que não existe até agora nada de Salinas. Falei agora a noite, por volta das 20:00hs, com um dos integrante do grupo, que me enviou inclusive fotos deles jantando no Zeppli. Ele inclusive ficou estarrecido com tanta maldade.
Por fim, o que de fato eles me passaram, é que estão firmes e focados no que planejaram. 

Nada, segundo informações vai abalar o grupo. A confiança é de que dará tudo certo. É esperar pra ver.
Zeca Carvalho
Jornalista-Registro  MTB-1041/MA


quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

A pós-verdade é uma velha novidade; fact-checking, não

Se 2016 foi o ano da pós-verdade, o que vem depois? Tudo.
Resultado de imagem para fact-checking
uase 50 anos antes de a Universidade de Oxford considerar 2016 o ano da pós-verdade, a filósofa alemã Hannah Arendt publicava, em seuVerdade e Política, uma crítica à permanente ameaça da dissolução do conceito de fato. Ela relembra como a União Soviética sob o regime stalinista tentou apagar Leon Trotsky de registros fotográficos revolucionários, sob o pretexto de reescrever seus livros de história.
Esse tipo de comportamento, repetido como fundamento de sociedades totalitárias, ganha cores fortes em regimes da democracia contemporânea. A ausência de figuras que de fato representam uma sociedade coesa nos levam à outra extremidade do sistema político: a de ausência, pulverização ou anulação do poder.
Nesse vácuo, políticos sofisticaram o discurso mentiroso. Lá fora, lavam suas versões pouco populares da realidade nas redações de veículos partidários. Aqui no Brasil, o expediente foi exaustivamente explorado por meio de blogs progressistas, há pelo menos dez anos, e tenta agora tomar forma, de maneira mais sofisticada, a partir de páginas do Facebook sem figura jurídica determinada.
Em 17 de novembro, um grupo de mais de 20 organizações de checagem de fatos em todo o mundo divulgou uma carta endereçada a Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, para propor colaboração no combate à disseminação de notícias falsas na rede social. Depois de rejeitar qualquer tipo de influência na proliferação de informações errôneas, a empresa divulgou um pacote com sete ações para evitar boatos. Uma delas é associar-se a veículos de fact-checking para uma abordagem jornalística mais rigorosa.

Resultado de imagem para fact-checkingSe o Facebook é um dos principais difusores de informações em nível mundial, não é errado dizer que o futuro da checagem, em 2017, passa necessariamente pelas redes sociais. A ideia é transformar essas plataformasantes meros instrumentos de distribuição jornalísticae torná-las, fundamentalmente, fontes a serem investigadas.
Se a disputa política se trava ali, sob a chancela dos políticos cujos discursos costumamos monitorar, e a realidade como vemos é reproduzida em seu ambiente, é essencial a ocupação desse espaço de modo muito mais rigoroso do que já é feito. No Brasil, isso tende a se intensificar entre o fim de 2016 e o início de 2017. Aos Fatos, por exemplo, é o primeiro veículo brasileiro a receber o selo “Fact-Check” do Google, em uma primeira tentativa da empresa de tornar mais criteriosa a busca de informações confiáveis em sua principal ferramenta.
É no compromisso certificado pela International Fact-Checking Network que veículos autenticamente preocupados com a busca da verdade podem se basear. Longe de encerrar dúvidas, esses princípios englobam ações básicascomo a adoção de critérios de apartidarismo e de transparência de financiamentoque permitem que jornalistas exerçam seu ofício de maneira honesta entre seus pares e para o seu público.
É esse público, aliás, que sabe, graças aos quixotescos checadores, que Donald Trump é um mentiroso contumazou que candidatos a prefeito no Rio e em São Paulo cometeram erros em 75% das suas declarações durante a campanha de 2016. Estudos já provaram que isso faz diferença para consumidores de jornalismo em específicoe a sociedade, de maneira geral.
Para financiadores do jornalismo, também. Lá fora, investem em projetos como o do Le Monde, que está tentando automatizar parte de suas operações de fact-checking para corrida eleitoral francesa do ano que vem. Aqui, 2017 será um balão de ensaio tecnológico para as eleições nacionais de 2018. Há espaço (e tempo) para o desenvolvimento de aplicativos, publicadores,add-ons e bancos de dados inteligentes para municiar checadorese o jornalismo, de modo geralno combate à disseminação de mentiras nas redes.
Resultado de imagem para fact-checkingNo entanto, sem critério, a tentativa de combater notícias falsas pode ter um efeito colateral em 2017. No New York Times, John Herrman argumenta que a fixação ao conceito puro e simples de “notícia falsa” pode piorar a sensação de que rigorosamente toda investigação jornalística não tem mais credibilidade.
“O uso estenográfico do termo ‘notícia falsa’ certamente causará reação inversa dez vezes maior. A narrativa da notícia falsa, como compreendida e usada, já começou a abarcar não apenas histórias falsas e fabricadas, mas também um conjunto maior de veículos tradicionais no Facebook e em outras redes. Fox News? Notícia falsa. Afirmações enganosas de [Donald] Trump a respeito da geração de empregos da Ford nos Estados Unidos? Notícia falsa. Todos os veículos hiperpartidários do Facebook? Notícia falsa. Essa formulação ampla do termo será aplicada à mídia tradicional, que ainda não entendeu quão ameaçada está sua habilidade de classificar algo que é verdadeiro efetivamente como tal”, diz.
Quem se propõe a checar deve ter claro que há diferenças substanciais entre o que é verdadeiro e o que é falsoe honestidade para admitir que há um sem número de nuances entre esses dois extremos. Por isso, se é perigoso deixar que uma única corporação de viés monopolista tome a decisão de monitorar ou não boatos virtuais, também deve estar fora de cogitação a criação de uma espécie de “Índex do Real Jornalismo”.
Em 2017, começamos tudo de novo, sob os auspícios de uma velha novidade. É bom que se lembre, entretanto, da pós-verdade de Hannah Arendt: segundo ela, o perigo da substituição total da verdade factual por falsidades não significa que a mentira irá prevalecer. “Em vez disso”, escreve a autora, “vencerá o cinismo, que torna impossível a distinção do que é real e o que não é”.

Por Tai Nalon diretora de @aosfatos. política, jornalismo - Este texto faz parte da série O Jornalismo no Brasil em 2017. A opinião dos autores não necessariamente representa a opinião da Abraji ou do Farol Jornalismo.