- Divulgação/Itep
Um prontuário criminal de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, e seu
bando, datado de 1940, foi encontrado na última semana no arquivo do
Itep (Instituto Técnico-Científico de Polícia) do Rio Grande do Norte.
Engavetado há quase oito décadas, o documento foi encontrado há duas
semanas e faz parte de um dos três processos contra o bando de
cangaceiros mais temido do Nordeste da década de 1930. Lampião e seu
bando invadiram as cidades de Mossoró, Martins e Pau dos Ferros, no ano
de 1927, e após essa invasão três processos foram instaurados.
O
prontuário é datado de dois anos após a morte de Lampião, ocorrida em
1938, mas o Itep atesta sua veracidade. O prontuário é parte de uma peça
criminal instaurada em 1927, no qual consta a identificação de Lampião e
mais 55 integrantes do grupo. Foi encontrado nos arquivos criminais do
Itep e estava misturado com outros que não possuem valor histórico.
Na ficha, não há o nome da companheira de Lampião, Maria Bonita. O
órgão, desde aquela época, detinha as fichas criminais de acusados de
crimes no Estado, como também os primeiros registros de identificação de
moradores e já fazia exames de corpo de delito e necropsia.
De
acordo com o chefe de gabinete do Itep-RN, Thiago Tadeu Santos de
Araújo, foi neste documento que Lampião e seu bando foram incluídos no
cadastro criminal do Estado.
"O documento consta o número 2261,
que sugere ser a página do processo. O prontuário criminal de Lampião
estava como um documento comum, no arquivo criminal, mas, devido ao seu
valor cultural, já separamos e guardamos em outro local", explica
Araújo. "Vamos também digitalizá-lo."
Pesquisador das histórias da Polícia Militar, Corpo de Bombeiros e
outros órgãos de segurança pública do Estado do Rio Grande do Norte, o
coronel Angelo Dantas também diz que o prontuário é parte de peça
criminal do processo aberto na comarca de Pau dos Ferros. Dantas estuda
há mais de 15 anos o resgate da história de segurança pública e possui
acervo de fatos históricos que ocorreram no Estado.
"Descobrimos que em 1936 houve uma nova legislação vigente e foi
implantado um sistema de identificação criminal. Essa peça, certamente
veio da comarca para o Itep com esse novo sistema para identificação dos
réus no processo da comarca de Pau dos Ferros. Lá, um soldado foi
assassinado pelo bando, que também cometeu roubos e furtos. Como nessa
época tudo era difícil, pode-se explicar a demora desse documento ter
chegado ao Itep", explica.
Segundo Dantas, as
pesquisas apontaram também que existe a certidão do oficial de Justiça
cumprindo a ordem do juiz de prender Lampião. "Por ser um cangaceiro
temido e ágil, que fugia rápido após os crimes, o oficial relatou no
cartório que percorreu o município de Vitória, atualmente Marcelino
Vieira, onde estava o distrito de Pau dos Ferros e não achou o bando."
No documento, Lampião e seu bando foram enquadrados no artigo 294,
parágrafo 1º (assassinato), e no artigo 356 (roubo) do Código Penal
brasileiro de 1890.
"Os artigos que ele e seu bando foram
enquadrados equivalem ao artigo 121, que é matar alguém, e artigo 157,
que é subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante
grave ameaça, dispostos no código penal atual [que é de 1940]", explica
Araújo.
O achado fará parte de uma sala-museu do Itep-RN que deverá ser criada
em breve. Além do documento, constarão máquinas fotográficas antigas,
material usado em necropsias, documentos das primeiras pessoas civis
identificadas no Rio Grande do Norte e fotos, entre outros.
Segundo Dantas, Lampião ficou quatro dias no Rio Grande do Norte e, "por
onde passou, só deixou desgraça". Em 1927, segundo Dantas, o bando
chegou à região oeste do Estado e invadiu a cidade de Mossoró, porém o
então prefeito, Rodolfo Fernandes, e os moradores defenderam o
município.
Lampião nasceu em Pernambuco e era filho de um
proprietário rural. Sua fama de cangaceiro começou quando ele foi
acusado de roubar bodes de outra propriedade. Em 28 de julho de 1938,
Lampião e parte do seu bando foram assassinados na fazenda de Angicos,
no sertão de Sergipe, vítimas de uma emboscada armada por soldados de
Alagoas.
Aliny Gama
Colaboração para o UOL, em Maceió
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