Visto como herói por um tempo, Cunha amarga o abandono dos aliados e vai para a cadeia
O ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB), que teve o mandato cassado em setembro deste ano,
passou de peça-chave no processo de impeachment da ex-presidente Dilma
Rousseff (PT) para preso da Operação Lava Jato, acusado pelos crimes de
corrupção, lavagem de dinheiro e evasão fraudulenta de divisas, pela
manutenção de contas secretas na Suíça que teriam recebido propina no
esquema na Petrobras.
Cunha foi um dos articuladores do impeachment, que começou meses antes
da saída oficial de Dilma ser efetivada no Senado. Em meados de 2015, no
papel de presidente da Câmara dos Deputados, Cunha rompeu com o governo
e colocou em votação as chamadas pautas-bomba, que, em geral, criavam
novas despesas para o governo federal e, ao mesmo tempo, arranhava a
imagem da então presidente da República. A estratégia deu certo: houve
diversas derrotas do PT no Congresso, o que afetou a governabilidade da
ex-presidente.
O pedido de impechment foi aceito por Cunha após o PT decidir não o
apoiar no processo de cassação contra ele na Comissão de Ética da
Câmara, em dezembro de 2015. Na época, o então presidente da Câmara
negou ligação entre a decisão dos deputados do PT e a dele. Meses
depois, a mesma Câmara que o apoiou durante o processo de afastamento de
Dilma, decidiu por sua cassação.
A figura de Cunha virou ícone durante a condução e articulação do
impeachment, quando ainda presidia a Casa. Como “algoz” de Dilma, o
ex-deputado chegou a ser ovacionado por movimentos sociais
pró-impeachment, como o MBL (Movimento Brasil Livre).
Se de um lado Cunha chegou a ser visto como um herói, a então oposição o
via como o mentor do que chamaram de “golpe” contra a ex-presidente,
que teria sido arquitetado ao lado de Michel Temer (PMBD).
A família de Cunha também passou a ser investigada pela Lava Jato. Sua
mulher, Cláudia Cruz, chegou a dar declarações de que nunca teve
conhecimento de onde vinha o dinheiro das suas contas no exterior e o
atribuía aos negócios do marido. O caso também respingou em sua filha.
Cunha chegou a chorar em meio a uma coletiva de imprensa quando falou
sobre sua família.
Em tom de “descartado” e considerado um peso para seu partido e aliados,
o ex-deputado passou os últimos meses tentando se defender das
acusações, garantindo estar sendo perseguido. Porém, nesta terça-feira
(18), o juiz Sérgio Moro deferiu o pedido de prisão preventiva, que foi cumprido nesta quarta-feira (19).
Existe uma expectativa de que Cunha faça novas revelações, que possam
ajudar a Polícia Federal a conseguir novas informações sobre esquemas de
corrupção.
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