Censura: equipe do GLOBO é ameaçada pelo prefeito Wagner Fontes (PTB), de Redenção, no sul do Pará
Partido diz que caso pode ir ao Conselho de Ética, e entidades protestam
Uma equipe do GLOBO enviada a Redenção (PA) para
investigar fraudes envolvendo a prefeitura foi ameaçada e coagida na
segunda-feira pelo prefeito e candidato à reeleição, Wagner Fontes
(PTB-PA), investigado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público
Federal. A jornalista Carolina Benevides e o fotógrafo Marcelo Piu
deixaram a cidade com dois policiais federais.
- Estou falando para que você embase suas perguntas,
até para que você possa refletir sobre o que eu vou te dizer. Se
(alguém) falar mal a fim de difamar, pode ser que amanhã ou depois
esteja morto.
O prefeito contou a história de um blogueiro da
região que, segundo ele, "sumiu". Disse que, no dia anterior ao
desaparecimento, procurou o blogueiro, conhecido como Júnior, e disse a
ele: "Se você continuar fazendo o que está fazendo comigo, a injustiça
que está fazendo comigo, vai custar caro para você. Porque pode ter
certeza absoluta de que Deus vai colocar a mão sobre você e cobrar o que
você está fazendo comigo".
- Não sei se ele repensou, se foi preso. Ele sumiu – relatou.
Fontes disse ter "visão ampla da liberdade de imprensa". E falou de novo do blogueiro:
- Ele foi preso. Não foi por minha causa. Houve uma
coincidência, a polícia estava concluindo um processo de investigação.
Foi preso como traficante.
A ameaça foi registrada em ocorrência na Polícia
Federal de Redenção. No documento, consta que o prefeito coagiu e
ameaçou a equipe, tendo deixado transparecer que um acidente poderia
acontecer ou ainda que algo ilícito poderia ser encontrado com a equipe.
A certidão menciona que um funcionário da prefeitura disse ao fotógrafo
que sabia qual era o carro da reportagem, além de perguntar onde a
equipe estava hospedada.
A equipe ficou sob proteção da PF. Na manhã de
terça-feira, foi acompanhada pela PF até a saída do perímetro urbano de
Redenção. Minutos depois de a PF ter retornado à cidade, dois policiais
militares pararam o carro da equipe e pediram carona. Avisado, o
delegado da PF Luís Felipe da Silva fez com que a equipe voltasse a
Redenção. Segundo ele, no município não é comum que PMs abordem carros
pedindo carona. Foi feito um adendo à certidão de ocorrência. Dois
policias federais escoltaram a equipe até a divisa com Tocantins.
Advogado do PTB e primeiro-secretário jurídico do
partido, Luiz Gustavo Pereira da Cunha disse que o PTB "repudia qualquer
censura à imprensa":
- Esse episódio é lastimável, pedimos desculpas
antecipadas – disse o advogado, afirmando que, caso O GLOBO peça
esclarecimentos à Executiva Nacional, esse pedido será levado ao
Conselho de Ética do PTB.
A Polícia Militar do Pará disse "não identificar
ameaça à vida ou integridade física da jornalista ou das pessoas que
estavam com ela". A PM pediu que a queixa seja feita por escrito.
O Comitê de Liberdade de Expressão da Associação
Nacional de Jornais (ANJ) afirmou que "considera esse episódio um claro
atentado ao direito de informar e de ser informado". A Associação
Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) considerou o episódio
absurdo e informou estar preocupada com a situação dos jornalistas no
interior do Brasil, onde têm ocorrido mais assassinatos.
Fonte/ O Globo
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