Falo mal do Sarney, logo apareço
O
problema de gente sem personalidade que passa muito tempo em países
estrangeiros é que ficam meio tapados, perdem referências e acabam nem
absolvendo nada do que presta lá de fora nem conseguem manter íntegro o
pouco de conhecimento que levam daqui para lá. São os metidos a
“cosmopolitas”, desarraigados da realidade de seu próprio povo. É o caso
do senhor Nelson Motta que, como analista político, é ótimo roqueiro e
produtor. Resolveu escrever texto cheio de lugares comuns, intitulado
“Minto, logo existo”, com coisas geniais como “a única certeza é que
ouviremos mais uma cachoeira de mentiras”, “certamente nunca na história
deste país se mentiu tanto”. E ainda lasca preconceito sociologicamente
lamentável contra a maioria católica do Brasil: “nos Estados Unidos e
em países de cultura protestante, mentir é um ato muito mais grave,
moral e legalmente, do que na América católica”. Nossa! Mas, entre
sofismas, chavões, tolices e análises pálidas, envolvendo coisas como
Mônica Lewinsky, História americana, condição humana e “mensalão”,
percebeu que tinha que dar um pouco de sangue às besteiras. E resolveu
fazer jus ao título do artiguete que escreveu, batendo em quem? Claro! O
ex-presidente Sarney. Péssimo hábito de nove entre dez jornalistas
meões como trampolim para se promoverem. Puro parasitismo político. A
verdade é que o moleque – sim, moleque, pois não sabe respeitar a
História do próprio povo – não conhece nada sobre Sarney. “Estadista de
moral ilibada”, sim, porque foi o grande timoneiro da difícil transição
democrática, homem de cultura que, além de acadêmico, foi governador,
deputado e senador pelo Maranhão, presidente da República em momento
delicado para o País, senador do Amapá por três mandatos consecutivos,
presidente do Senado Federal por três vezes. São quase 60 anos de vida
pública, sempre eleito, escrevendo a História do Brasil, convivendo com
grande paciência com ataques de adversários e a admiração de amigos.
Enquanto o alienado Nelson Motta se preocupa apenas com Rock e coisas do
gênero, Sarney, em 1996, aprovava no Congresso a lei que garante o
acesso de milhares de brasileiros portadores do vírus HIV aos
medicamentos necessários ao combate e controle da doença. Graças a distribuição gratuita do coquetel anti HIV,
hoje o programa brasileiro é considerado modelo em todo o mundo.
Enquanto o “criativo” Nelson Motta vive de sofismas, Sarney tem no seu
histórico coisas como a Universalização do Direito à Saúde, a impenhorabilidade da casa própria contra a sanha dos banqueiros, o vale transporte para os trabalhadores, o reordenamento do sistema financeiro brasileiro, com a criação do SIAFI (que Motta nem deve saber o que é), a Lei de Incentivo a Cultura, a criação do IBAMA, o seguro desemprego, a inédita política de cotas para negros nas universidades, a criação do Ministério da Cultura. Se
estas coisas não são ações de um estadista, não sei o que pode ser.
Como alguém que já escreveu livro sobre o progressista Glauber Rocha,
Motta teria que ter aprendido mais com o revolucionário cineasta, que
era amigo e admirador de Sarney e o apoiou na campanha para o governo do
Maranhão em 1966, inclusive fazendo brilhante filme a respeito.
Nelsinho deveria lavar a boca mil vezes antes de falar de Sarney. Não
tem moral para isso. Tem que deixar de mentir para existir.
Said Barbosa Dib é historiador, analista político e, com muito orgulho, assessor de imprensa do senador Sarney
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